sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Der Spiegel: Desafios da Nova ordem mundial

Os Estados Unidos não são mais capazes de carregar nos ombros as crises mundiais. Mas quem assumirá seu lugar? Rússia, Brasil, China e Índia estão crescendo, mas também estão competindo com a Europa e os Estados Unidos por recursos naturais finitos. Apenas um futuro comum, uma "mudança por meio de reaproximação" e não um "choque de futuros", pode nos conduzir adiante.

"Os americanos... só sabem nadar em um mar. Eles nunca desenvolveram a capacidade de ingressar no mundo de outros povos." - Fareed Zakaria

Nós estamos vivendo em uma era sem uma potência mundial única, dominante. O mundo está tomado por crises - mudança climática, escassez de recursos, crise financeira e alimentar, proliferação nuclear e Estados fracassados. Nenhum país pode conceber soluções para tratar de todos esses problemas. Nem mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) está à altura da tarefa. De fato, como reconheceu o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, na Conferência de Governança Progressista, em abril em Londres, as organizações internacionais fundadas após a Segunda Guerra Mundial não mais atendem às necessidades atuais.

Quem são as potências decisivas nesta nova ordem mundial? Estados Unidos, Rússia, Índia, China, Brasil e a União Européia certamente estão entre elas. De forma interessante, esses países estão se aproximando cada vez mais. A atual crise financeira mostra quão profundos se tornaram seus laços. Outras semelhanças são igualmente reveladoras. Com a exceção da Europa, cada um desses países contém dentro de si aspectos do primeiro, segundo e terceiro mundos. Na megalópole Mumbai, por exemplo, a maior favela da Ásia é adjacente a um centro econômico próspero. Uma pessoa que cruza a Rússia de carro encontra tanto riqueza impressionante quanto pobreza abjeta. Mesmo nos Estados Unidos, o país mais rico do mundo, parte de sua população tem dificuldade de ter uma vida decente.

Esses países não são nem inimigos um do outro, nem são amigos; eles são "frenemies" (algo como "inimiamigos"), concorrentes pelos recursos escassos do mundo. Esses países asseguram às suas populações que podem moldar a futura ordem global e prover seu bem-estar futuro, mas suas respectivas visões do futuro podem divergir enormemente. Um potencial "choque de futuros" paira no horizonte do mundo multipolar.

Novas alianças que coloquem países uns contra os outros não conseguirão resolver os desafios do século 21. Novas formas de cooperação internacional, consulta e concessão terão um papel central no mundo multipolar. É um absurdo que a Itália pertença ao G-8, mas não a China ou o Brasil. E que tipo de relevância um conselho de segurança mundial pode ter quando Índia, Brasil e a União Européia ficam de fora, enquanto França e Reino Unido são membros permanentes?

São necessárias novas formas de governança internacional: em um mundo com diminuição de recursos e mudança climática em aceleração, os países podem se ver tentados a correr atrás de seus próprios interesses visando obter vantagens a curto prazo. O desafio será conceber uma nova estrutura internacional e um equilíbrio organizado de interesses. Apenas um futuro comum, uma "mudança por meio de reaproximação" e não um "choque de futuros", pode nos conduzir adiante.

Certamente, os últimos 10 anos deram muitos motivos para pessimismo. Para que os próximos 10 anos sejam um sucesso, nós precisaremos nos reforçar com um otimismo crível, mesmo que cético.


Por Wolfgang Nowak - Der Spiegel - 07/10/2008
Tradução: George El Khouri Andolfato

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