quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Manifesto Decadentista por Társis T. S. Schwald

Elegia


........Quando escrevi o manifesto pela primeira vez, provavelmente em 1992 culminando em 1993, eu era bem diferente do homem que sou hoje. Estou mais velho, mais calmo e mais experiente.
........Difícil para mim seria abandonar o que disse por pior que fosse. Até porque era eu mesmo escrito, minha própria maneira de pensar e consequentemente, agir.
........As coisas evoluem, é verdade, mas o verdadeiro está sempre presente. Nossas "verdades" sempre ficarão.
........As vezes superficialmente, outras vezes profundamente.
........Agora, na virada do milênio decidi reescrever minhas teorias, minhas fórmulas.
........É claro que algo mudou (Também aprendi a escrever melhor?). Estou menos esperançoso, mesmo estando mais forte. Mais consciente, mesmo estando mais calmo.
Minha filha virá em breve - é bem possível que um dia essa criança cresça e leia isto.
........Tomara, mesmo que seja para rir.
........Tomara que outros leiam. Interpretem, gostem, detestem, ignorem, acrescentem, mas... leiam.
........Viver e ler, em si - já são atos de coragem.





Parte I - La Muerte


........A destruição progressiva de nossa era é consumada. Nossa única forma de salvação e elevação do espírito é a morte. Nosso espírito é um ente eterno, formado por uma força indescritível, uma força aprisionada na jaula de carne que é o homem.
........O fim da jornada humana é apenas mais uma ação do todo poderoso e contínuo, por isso a morte não quer dizer que esta pessoa já não mais exista, mas sim, que esta pessoa passou por um nível de consciência inferior ou superior. A morte é apenas uma porta pela qual atravessaremos infalivelmente.
........A morte tem de ser natural e não pode ser abreviada.
........Abreviar sua vida é uma ato covarde renegado pelo decadentismo.
........A vida é o contraponto fundamental para explicar o decadentismo, como veremos a seguir.




Parte II - La Vida


........Não há futuro propriamente dito.
........Somos parte de um todo que tende a se desfazer. Estamos destruindo nossa existência por ganância, por pequenos atos singulares, atos conscientes ou não: guiados ou não. Nós somos os agentes e reagentes de nossos próprios medos e horrores. Nós lutamos contra nossa própria felicidade, dia a dia, noite a noite.
........Mas a vida precisa servir como nosso condutor para a passagem, o modo de alcançarmos nossa ida para os níveis que se bifurcam quando atravessamos os portais do umbral.
........A vida é uma bênção tão grande quanto a morte.
........Depende de nós: sofrer, lutar, aprender, gozar, enfim viver. Viver a plenitude da vida para extrair a plenitude da morte.
........São muitos os caminhos para se atingir um lugar.
........Alguns optam por uma vida casta, alguns por uma vida livre, alguns pelo bem, alguns pelo mal, alguns pela dor, alguns pelo prazer... mas seja qual for o caminho, o homem deve agir, enfrentar a realidade de mãos limpas para se purificar na morte.





Parte III - La Acción


........O desencanto reina absoluto no coração do homem decadentista, apesar de ser impossível, ainda assim, abandonar a esperança. Daí sobrevem o caminho para a evolução do espírito, da alma imortal aprisionada na jaula de carne humana.
........Já que o homem nasceu para seu próprio fim, não resta mais nada, a não ser viver bem para este fim.



(Der Leute - Politik)


........Os homens modernos construíram o mundo com bases em disputas e tomadas de poder.
........É verdade que o povo sempre foi um joguete nas mão deste poder. Sua importância varia de acordo com sua função em determinado momento da disputa, então, porque não mudar?
........Simplesmente porque não é do interesse deste dominador.
........Mas o poder gera uma coisa inerente e imediata às pessoas que o detém: o medo.
........O medo de perder este poder, o medo de se confrontar consigo mesmo.
........Não considero errado o acúmulo de bens de forma lícita, e não condeno as oportunidades que surgem para proporcionar bem estar e conforto. O bem estar é necessário. O decadentista não nasceu para sofrer, assim como nenhum outro ser nasceu. O sofrimento que acompanha o homem não é inato.
........O decadentista nasceu para a morte, mas deve viver dignamente, para ser prestativo, para não ter preconceitos quaisquer, para encontrar o equilíbrio necessário para a vida.
........Deve buscar febrilmente o equilíbrio, suportar com dignidade o absurdo realismo implantado por este vicioso e péssimo sistema de governo, por sua sociedade injusta e alienada, a própria humanidade que caminha para seu fim lento e desastroso, tornando o ciclo de renovação imutável.
........Lembro-lhes quão difícil é atingir o equilibrio. Só atraves dele o homem se torna verdadeiro.
........Mas como fazer isso se não existe outra verdade absoluta que não a morte?

........Os símbolos representam para o homem decadentista seu modo de pensar e seu modo de agir.
........Os símbolos são nossas roupas, nossa música, mas mais do que tudo isso, nossa conduta, nosso modo de reagir as felicidades e adversidades. As atitudes são a base. São elas que devem ser o exemplo e não as roupas ou a música.
........Todas as formas de conduta podem ser expressadas por sua ideologia.
........O homem não deve se entregar facilmente ao que não lhe convém.
........Os símbolos, em todas as épocas, sempre nos traduziram o que somos.
........Vivemos um momento em que estes símbolos são diariamente deturpados, ou substituídos. A evolução natural transforma o homem e os símbolos, mas a essência sempre permanecerá.
........Ainda assim, é possível mostrar o que você realmente é sem se sentir isolado.
........Suas opiniões e símbolos são parte do decadentismo.



(Der Schlüssell)


........O decadentismo é a arte da paciência, do auto controle e do respeito à morte.
........Este sentido foi defendido por poetas, músicos, escritores, filósofos, pintores e visionários que nos demonstram como deve ser uma luta perante a vida, em seu espírito silencioso, taciturno, que receberá sua purificação na morte, a certeza e mãe da humanidade.
........O homem como ser ambíguo, se incapacitou de criar um mundo perfeito e justo.
........Seu sofrimento purifica sua alma cuja libertação virá na morte.
........A literatura, sublime criadora, oradora do espírito humano por todas as gerações, ilustraram o fardo humano, o conhecimento, o prazer, a luta e o fim.
........O tempo é de crer em si, em meio ao descrédito -
........O tempo é de luta, embora não hajam vitórias -
........O tempo é de construir, reformar, criar, interiorizar - exteriorizar.
........É nosso tempo, e em meio ao caos, se dermos vida ao que deve ser vivido, teremos a paz da eternidade.




Resgatando arquivos de um zine
abandonado que eu gostava muito
Sepia

Um comentário:

  1. Foda cara...simplesmente!.... o mundo precisa de pessoas com idéias genuínas e corretas como as suas! Parabéns pelas palavras.

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