
1. O Drácula de Stoker É Vlad Dracula. Não é bem assim... É certo que Van Helsing descreve o conde como "aquele 'voivode' Drácula" que lutou contra os turcos, mas igualmente verdadeiro é o aparente fato que Stoker plagiou este termo de um livro de viagem da Transilvânia. E muito provavelmente, Stoker não viu nenhum retrato do Drácula histórico. E ele certamente não pesquisou tão a fundo. Como nota Clive Leatherdale, estudioso de Drácula, na novela, o Drácula "histórico" é mais "um invento literário para dar à obra um substrato de realismo factual". A narrativa não nos oferece nenhuma data real da vida do Conde... ela parece ter sido elaborada após a leitura da passagem sobre o "voivode". Até mesmo "Conde" não é um título real Romeno. Vlad Drácula era um príncipe-guerreiro, uma tradução grosseira de "voivode", mais um líder popular do que um aristocrata. Além disso, em nenhuma parte da novela, Drácula é citado como "Vlad" ou "Tepes" (o impalador).Fisicamente, o Conde Drácula é muito diferente do Vlad histórico. O Conde é alto, demasiadamente magro, com uma grande testa igual a uma cúpula. Ele tem bigode, nariz aquilino, e parece um tanto bestial. Vlad, por sua vez, tinha um rosto arredondado, com uma cabeça grande que parecia repousar diretamente sobre seus ombros. Nos dias de hoje ele seria apelidado de "sem-pescoço", ao menos na América..É verdade que ele tinha bigode e um nariz um tanto longo, mas ele não parecia bestial. Uma descrição contemporânea dizia que ele tinha ombros largos e altura média de 1,77 m (medida considerada "alta" em sua época, mas não ao ponto de se impor). Alguns críticos sugeriram que Stoker poderia ter visto xilogravuras alemãs no Museu Britânico, que o retratam severo, de aparência cruel. Talvez. Mas não bestial como no retrato literário no livro. Stoker acreditava na fisionomia, acreditava que a aparência física de alguém revelava seu caráter. Há mais desta ideologia em seu retrato do conde Drácula do que qualquer outra coisa.
2. Stoker fez pesquisas exaustivas para escrever a novela. Não. Nós temos uma lista dos trabalhos de referência que ele examinou (no Museu Rosenbach na Filadélfia) e aparentemente ele consultou alguns poucos guias de viagem, leu um ou dois volumes de folclore e mitologia e completou o restante com qualquer coisa que ele encontrasse em suas leituras de horror clássico incluíndo o trabalho de J. Sheridan Le Fanu.Se ele teve cuidado ao fazer algo, foi ao escrever notas sobre horários de trem, datas e pormenores de navegação. Qualquer um que leu o livro sabe o quão dirigida por uma linha de tempo a novela é, e a esse respeito, Stoker foi muito meticuloso (embora nem sempre consistente).Uma curiosidade: Stoker havia planejado intitular seu livro "Count Wampyr". Esta deve ter sido uma variação de "The Vampyre", de Polidori, uma espécie de homenagem àquele trabalho. Foi mudado para "Drácula" provavelmente no momento em que ele encontrou o nome Drácula em um guia de viagem da Transilvânia.

4. "Dracula's Guest" é o primeiro capítulo excluído de "Drácula". Aparentemente não... e o estudiodo Clive Leatherdale estudou as anotações de Stoker para provar isto. Em lugar algum das anotações Stoker menciona os eventos do tão comentado capítulo "cortado", mais tarde publicado postumamente pela viúva do autor, em 1914.Evidências no próprio texto apóiam as dúvidas de Leatherdale: na novela, por exemplo, Jonathan Harker fala um alemão aceitável; na estória, o narrador anônimo (antigamente acreditava-se que se tratava de Harker) quase não entende alemão... Ele insiste para que o cocheiro fale em inglês! O estilo de escrita difere do da novela, é mais compacto, mais ágil e, na verdade, bem melhor! Temos a impressão de que a intenção é a de ser um conto e não um capítulo em uma longa novela.Baseamos a crença de que "Dracula's Guest" seja um capítulo excluído pela suposição de Florence, viúva de Stoker, que o encontrou entre seus papéis. ELA e não Stoker afirmou que ele era um capítulo removido do livro a fim de encurtá-lo. Leatherdale acredita que Stoker escreveu a estória no início de 1890, o período mais fértil da sua produção de contos, que inclui "The Squaw". Após escrevê-la, ele decidiu se desfazer dela e desenvolvê-la em uma novela detalhista. Foi apenas depois de "Drácula" se tornar um bestseller internacional que Stoker desenterrou-a, alterou alguns detalhes e intilulou-a "Dracula's Guest". Ele pode ter pretendido que a estória servisse de "prelúdio" para o enredo da novela, mas nunca saberemos ao certo... Apesar disso, os estudiosos de Drácula parecem cada vez mais unânimes: este NÃO É um capítulo inicial excluído de Drácula.
5. Drácula usa uma longa capa. O único lugar no livro onde o Conde está vestindo uma capa é na cena do zoológico, quando ele visita o lobo "Bersicker" e fala com o zelador. No castelo, Harker diz que ele estava vestido de preto dos pés à cabeça, mas não especificamente numa capa. A maioria dos leitores o visualiza vestindo um sobretudo. Em determinado momento, Harker vislimbra o Conde lendo esticado num divã. O Rei dos Vampiros salta e saúda o jovem. Tentar isso numa capa que chega ao chão seria no mínimo complicado, não?As capas eram a roupa convencional dos vilões nos palcos, dúzias deles a exibiam em melodramas e o adereço foi adaptado pelos atores para que pudessem representar um Drácula ameaçador. A capa também preservava os olhos da platéia das "obscenidades" (e talvez "safadezas") que ocorriam enquanto ele molestava e mordia as pobres vítimas. Além disso, o Drácula do teatro podia abrir a capa e criar a ilusão de um enorme morcego predador, o primo terrestre do vampiro.

7. Mito cinematográfico: O nome do ator que interpreta o vampiro em "Nosferatu - Uma Sinfonia do Horror" (1922) não é Max Schreck, e sim Aristid Olt. Não é verdade. Schreck realmente se chamava Schreck! E sim, este sobrenome significa "terror" em alemão, fato que influenciou sua escolha por F. W. Murnal para o papel de Orlock (Drácula). David Skal tem uma foto rara de Max Schreck sem a maquiagem de Nosferatu no seu livro "Hollywood Gothic".
8. Em seus últimos dias, Bela Lugosi acreditava ser Drácula, foi por isso que ele foi enterrado com sua capa. A parte verdadeira: Lugosi foi enterrado com seu figurino de Drácula, de smoking e capa. A parte falsa: Ele estava louco ou caduco. Muitos mitos persistem a respeito dos últimos anos de Lugosi e este é um dos mais "românticos": um ator que se identifica tanto com um personagem que acaba acreditando ser ele até a morte. Sem falar que isto também falta com o devido respeito com o homem e sua família. Pelo que sabemos, de relatos da viúva e filho de Lugosi e de Ed Wood, ele estava se sentindo bem em seus últimos dias, devido à sua recuperação do vício de analgésicos. Lia roteiros e planejava trabalhar em um filme chamado "The Ghoul Goes West". Ele morreu de um repentino enfarto (e não de uma overdose de drogas, como outro desrespeitoso mito popular alega).Outro mito é que Boris Karloff foi ao velório, se inclinou sobre o corpo de Lugosi e sussurrou: "Ora, Bela, levante! Todos sabemos que é teatro". Karloff estava na Inglaterra no momento da morte do Húngaro e não foi ao velório.

10. Stoker usou a Condessa Erzebet Bathory, a "Condessa Sanguinária", como um modelo para Drácula. Em seu livro "Dracula was a Woman", Raymond T. McNally argumenta que Stoker deve ter conhecido as estórias da Condessa Bathory da Hungria (1564-1614) e sua lendária sede de sangue, masculinizando-a para uní-la com Vlad Drácula em um só personagem."Deve ter conhecido" e "realmente conheceu" não são sinônimos. Stoker não menciona Bathory nem em suas anotações nem no livro. Se houve uma "Condessa" que o inspirou, é mais provável que seja Mircalla (Carmilla) Karnstein, a vampira-título da estória de Le Fanu (1871).A própria Bathory está mais envolta em mitos do que em fatos. O mais famoso é o que diz que ela se banhava em sangue de virgens para manter sua juventude (uma lenda que McNally afirma ter sido adaptada por Stoker, explicando assim o rejuvenescimento de Drácula conforme ele se alimentava de sangue). O autor sensacionalista Valentine Penrose popularizou esta estória em seu livro sobre Bathory em 1962 (publicado em Paris, inspirando a novela "La Condesa Sangrienta", escrita em espanhol pela poetiza argentina Alejandra Pizarnik).Pelo que sabemos, esta é uma tentativa de difamação feita por seus detratores para tornar a imagem de Bathory ainda mais monstruosa. Nos registros da corte não constam acusações desta natureza a ela, e ela própria nunca disse que precisava se banhar em sangue para manter sua juventude.O que sabemos é que Bathory era horrenda em outros aspectos, como documentam os registros da corte de 1610: ela praticava ritos satânicos; adorava ver garotas serem torturadas; colocava os corpos destas garotas em sua cama onde ela sempre as atacava mordendo e mastigando seus pescoços, braços ou outras partes do corpo. A imagem de Erzebet Bathory drenando sangue por tubos para se banhar nos fluídos é uma invenção que só apareceu mais tarde, invenção que foi explorada por cineastas em filmes como "Countess Dracula" (1970).Para um excelente relato do julgamento de Bathory, leia "Dracula was a Woman", de McNally.
por Cid Vale Ferreira
parabens voce realmente me surpreendel
ResponderExcluircertamente vc também não é normal
para ter uma visão tão profunda
Você só consegue surpreender com tal post" pessoas que escrevem; supreendeu, com L.
ResponderExcluiranalise coerente
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